A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), emitiu nota, datada em 9 de julho, sobre o momento atual da conjuntura brasileira. Nela reafirma, por meio de sua presidência, a necessidade de “defender as vidas ameaçadas, os direitos respeitados e apoiar a restauração da justiça, fazendo valer a verdade”. A sociedade democrática brasileira está atravessando um dos períodos mais desafiadores da sua história. “A trágica perda de mais de meio milhão de vidas está agravada pelas denúncias de prevaricação e corrupção no enfrentamento da pandemia da COVID-19”, diz um trecho da nota. E ainda: o momento “exige de todos, coragem, sensatez e pronta correção de rumos”.
Correção de rumos? Para onde? Para frente, para o futuro. E o futuro, diz o bom senso dos verdadeiros patriotas, é uma sociedade justa e fraterna, onde impera a justiça e a paz para todos. Cristo legou-nos a missão de trabalhar pelo Reino de Deus que consiste na justiça, verdade, liberdade e amor.
O rumo do atraso é cair na tentação de voltar para trás. E o que temos atrás de nós em nossa história? Além da escravidão hedionda, um período de ditadura e outro de populismo, que hoje polarizam e dividem a Nação. Nação que tem como linha constante na sua história a praga da corrupção endêmica.
Não é o passado autoritário que trará soluções. Creio como cristão que, a única e verdadeira segurança nacional reside em facilitar a plena participação das pessoas na vida do país. Inclusive exercendo o direito de votar. Somente quando houver diálogo e uma vida de confiança e respeito mútuos entre as pessoas, em todos os níveis da sociedade, aí sim, poderá existir verdadeira segurança nacional, custodiada pelo respeito às instituições e não pela força do medo.
Em 1985 foi editado o livro “Brasil nunca mais”, um relato para a história sobre a tortura praticada entre 1964-1979 no país. Páginas de sangue e violência, para reprimir violência; atingindo muitos inocentes. A violência não é solução política duradoura. Fracassa sempre assim como a mentira.
A imagem de Deus, estampada na pessoa humana, é sempre única. Só ela pode salvar e preservar a imagem do Brasil e do mundo. Não há outra solução nem para um lado nem para outro, a não ser levar em conta a dignidade de cada ser humano, no respeito e promoção da participação de todos, em todos os âmbitos da sociedade, que pede somente seus direitos garantidos pela constituição: pão, emprego, moradia, segurança, educação e saúde.
Jesus disse: “A verdade vos libertará”(Jo 8,32). E Pilatos pergunta: “O que é a verdade?” (Jo 18,38). A verdade estava bem diante dele: Jesus e o mandamento do amor. Mas ele não deu ouvidos porque preferiu ficar com a sua verdade. E a “verdade” de Pilatos incluía o jogo de poder, opressão, mentira e a suprema injustiça de condenar o Justo, a quem entregou para ser crucificado.
Seria o que escrevo inspirado na ideologia comunista? Não, o comunismo é ateu e bárbaro, como o fascismo: são chifres do mesmo diabo. A sociedade brasileira não os quer. Alguns líderes podem querer, mas a alma do nosso povo quer viver em paz, progresso e segurança.
O que é especialmente intolerável, justamente quando a maioria dos povos subscreveu, inclusive o Brasil, o reconhecimento e defesa dos direitos humanos e a dignidade do ser humano, esses direitos estarem sendo suprimidos e violados no mundo todo. Entre nós aqui, basta pensar nos milhões de desempregados, vítimas da fome e a perversa distribuição de renda.
Parabenizo o Dr. Ariel de Castro Alves por sua eleição como presidente do grupo “Tortura nunca mais”, de São Bernardo do Campo. Coragem! A última palavra será sempre da justiça e do direito (Is 51,8), porque é a palavra do juiz supremo: Deus!
* Artigo por Dom Pedro Carlos Cipollini, Bispo de Santo André