Na Carta Apostólica Patris Corde, divulgada no dia 8 de dezembro de 2020, por ocasião do 150º aniversário da declaração de São José como padroeiro universal da Igreja, Papa Francisco destaca virtudes do esposo de Maria e pai adotivo de Jesus, como um homem justo, trabalhador e que cumpre a missão de acolher o projeto de Deus para o plano de salvação da humanidade.
Antes de finalizar a reflexão, o Santo Padre diz que “o objetivo desta carta apostólica é aumentar o amor por este grande Santo, para nos sentirmos impelidos a implorar a sua intercessão e para imitarmos as suas virtudes e o seu desvelo.”
O sumo pontífice também afirma que “a missão específica dos Santos não é apenas a de conceder milagres e graças, mas de interceder por nós diante de Deus, como fizeram Abraão e Moisés, como faz Jesus, único mediador (1 Tm 2, 5), que junto de Deus Pai é o nosso advogado (1 Jo 2, 1), “vivo para sempre, a fim de interceder por nós” (Heb 7, 25; cf. Rm 8, 34).”
Na carta apostólica, o Papa Francisco traça algumas características próprias de São José que o tornam também um “missionário das ações concretas”. Logo no primeiro capítulo Pai Amado, o Santo Padre afirma que a grandeza de São José consiste no fato de ter sido o esposo de Maria e o pai de Jesus. Como tal, afirma São João Crisóstomo, “colocou-se inteiramente ao serviço do plano salvífico”, ou seja, um personagem importante na história para o plano de Deus se concretizar no mundo.
Por sua vez, a carta também revela que, São Paulo VI faz notar que a paternidade de São José se exprimiu, concretamente, “em ter feito da sua vida um serviço, um sacrifício, ao mistério da encarnação e à conjunta missão redentora; em ter usado da autoridade legal que detinha sobre a Sagrada Família para lhe fazer dom total de si mesmo, da sua vida, do seu trabalho; em ter convertido a sua vocação humana ao amor doméstico na oblação sobre-humana de si mesmo, do seu coração e de todas as capacidades no amor colocado ao serviço do Messias nascido na sua casa.”
Por este seu papel na história da salvação, São José é um pai que foi sempre amado pelo povo cristão, como prova o fato de lhe terem sido dedicadas numerosas igrejas por todo o mundo e institutos religiosos em todo o mundo.
Pai na obediência é mais um capítulo que aborda essa missão de São José, o qual Deus revelou a ele, os seus desígnios por meio de sonhos, que na Bíblia, como em todos os povos antigos, eram considerados um dos meios pelos quais Deus manifesta a sua vontade.
Como é citado neste trecho da carta: “José sente uma angústia imensa com a gravidez incompreensível de Maria: mas não quer “difamá-la”, e decide “deixá-la secretamente” (Mt 1, 19). No primeiro sonho, o anjo ajuda-o a resolver o seu grave dilema: “Não temas receber Maria, tua esposa, pois o que Ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados” (Mt 1, 20-21). A sua resposta foi imediata: “Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo” (Mt 1, 24). Com a obediência, superou o seu drama e salvou Maria.”
“No segundo sonho, o anjo dá esta ordem a José: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar” (Mt 2, 13). José não hesitou em obedecer, sem se questionar sobre as dificuldades que encontraria: “E ele levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito, permanecendo ali até à morte de Herodes” (Mt 2, 14-15).
“No Egito, com confiança e paciência consigo o menino e sua mãe e regresse à terra de Israel (cf. Mt 2, 19-20), de novo obedece sem hesitar: «Levantando-se, ele tomou o menino e sua mãe e voltou para a terra de Israel» (Mt 2, 21).
Durante a viagem de regresso, porém, “tendo ouvido dizer que Arquelau reinava na Judéia, em lugar de Herodes, seu pai, teve medo de ir para lá. Então advertido em sonhos – e é a quarta vez que acontece – retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré” (Mt 2, 22-23).
Por sua vez, o evangelista Lucas cita que “José esperou do anjo o aviso prometido para voltar ao seu país. Logo que o mensageiro divino, num terceiro sonho – depois de o informar que tinham morrido aqueles que procuravam matar o menino –, lhe ordena que se levante, tome, refere que José enfrentou a longa e incômoda viagem de Nazaré a Belém, devido à lei do imperador César Augusto relativa ao recenseamento, que impunha a cada um registar-se na própria cidade de origem. E foi precisamente nesta circunstância que nasceu Jesus (cf. 2, 1-7), sendo inscrito no registo do Império, como todos os outros meninos.”
Na sua função de chefe de família, José ensinou Jesus a ser submisso aos pais (cf. Lc 2, 51), segundo o mandamento de Deus (cf. Ex 20, 12).
Ao longo da vida oculta em Nazaré, na escola de José, Ele aprendeu a fazer a vontade do Pai. Tal vontade torna-se o seu alimento diário (cf. Jo 4, 34). Mesmo no momento mais difícil da sua vida, vivido no Getsêmani, preferiu que se cumprisse a vontade do Pai, e não a sua, fazendo-Se “obediente até à morte (…) de cruz” (Flp 2, 8). Por isso, o autor da Carta aos Hebreus conclui que Jesus “aprendeu a obediência por aquilo que sofreu” (5, 8).
Vê-se, a partir de todas estas vicissitudes, que “José foi chamado por Deus para servir diretamente a Pessoa e a missão de Jesus, mediante o exercício da sua paternidade: desse modo, precisamente, ele coopera no grande mistério da Redenção, quando chega a plenitude dos tempos, e é verdadeiramente ministro da salvação.”